Cara, eu AMO a Onyx Path Publishing! Eles são tipo a BioWare dos jogos de mesa.
Ontem eu encontrei esse bloco de texto da edição de 20 anos de Mago: A Ascensão enquanto surfava pela internet. E meu respeito pelos caras que trabalham na Onyx Path triplicou depois dessa.
O texto fala sobre fluidez de gênero e sexualidade entre os magos e os adormecidos (pessoas que não sabem fazer magia) e sobre a interpretação de personagens de realidades culturais diferentes da sua.
REPRESENTATIVIDADE IMPORTA SIM! É sempre bom ver obras incluindo pessoas trans e outras identidades de gênero como parte da sua realidade. Mesmo que seja em um jogo de nicho feito pra um publico hardcore de uma mídia super underground, como é o caso de Mago: A Ascensão.
Aqui vai uma tradução minha do conteúdo:
Interpretando o Outro
Jogos narrativos lhe dão a oportunidade de ser alguém que você não é. E para algumas pessoas, essa oportunidade inclui a chance e jogar como uma pessoa de uma cultura, idade, gênero, etnia, fé ou classe social diferente da sua. Entretanto, se e quando você tomar esse papel, por favor, trate-o com respeito. Especialmente quando se trata de interpretar personagens que fazem parte de algum grupo marginalizado é muito fácil acabar escorregando em estereótipos ofensivos, mesmo quando você não está tentando fazer isso. Para evitar tais deslizes, baseie sua interpretação na humanidade, e não em estereótipos.
Em um nível mais profundo, use o seu papel como uma oportunidade de examinar os preconceitos, os privilégios e as presunções da sua própria realidade cultural trocando a sua perspectiva e observando esses aspectos de outro ângulo. Se você for um cara jogando como uma mulher, pense sobre como deve ser realmente ser uma mulher. Você é uma pessoa branca? Então considere as formas as quais a sociedade trata pessoas cuja principal característica descritiva é que “elas são negras”. Um papel culturalmente diferente levado a sério pode abrir os seus olhos para aspectos da realidade que você pode não ter notado antes. E mesmo que isso não mude a realidade da sua experiência, esse papel pode ajustar a forma como você vê pessoas que são diferentes de ti.
Identidade de Gênero
Por mais que identidades de gênero e orientações sexuais ainda não tenham sido tão rigorosamente definidas quanto os conservadores culturais gostariam, o século 21 testemunhou um crescimento sem precedentes na conscientização sobre diversidade sexual e de gênero. E mesmo que isso faça algumas pessoas se cagarem de medo a noite, hoje em dia há muito mais liberdade para expressar e explorar potenciais além das polaridades masculino e feminino heterossexuais.
Magos sempre moldaram percepções com o tocar de seus dedos. Através do tempo e culturas, cross-dressing, inversão de gênero e intersexualidade foram coisa tratadas como ferramentas ou disposições mágicas, formas de transcender a ordem esperada. Algumas culturas se referiam a pessoas homossexuais ou transgêneras como duas-almas, rebises, andróginas ou hermafroditas, em homenagem à deidade bigênera filha de Eros e Psiquê. Outras culturas reconheciam a combinação e o cruzamento de gêneros como uma expressão de poderes místicos, um elo a deuses como Odin e Dionísio, cujos gêneros eram apenas máscaras para se arrancar quando necessário. Mas é claro que com gente sendo gente, tais associações muitas vezes eram desfavoráveis. Os códigos de conduta do Levítico, que permanecem conosco até hoje, são considerados por algumas autoridades como a condenação de todas as práticas e fés não judaicas, e portanto, profanas para os hebreus.
No decorrer das últimas décadas, uma combinação do ativismo pelos direitos civis e conscientização dos direitos humanos afastou as normas antigas. Uma pessoa gay ou trans no novo milênio pode ser muito mais aberta agora do que ela/ele/el/eli jamais poderia ter sido em épocas passadas. E com as antigas associações com poderes místicos e a nova liberdade de transcender papeis de gênero sem precisar ter medo que te levem pra fogueira, a ideia de identidade de gênero se tornou muito mais fluida – e mágika – do que jamais foi. E costuma ser muito mais estranho, principalmente em culturas queer, poliamorosas, transumanistas, neotribais e psicodélicas, ser simplesmente “cis hétero” do que abraçar e curtir alguma identidade fora das polaridades tradicionais.
Meu ponto? Você não precisa se limitar a rígidas polaridades de feminino e masculino, nem em Mago, nem na vida real. Seja quem você quiser ser. Tem mágika suficiente pra todo mundo.
E esse é o texto original:
Fiquei emocionadíssimo com essa notícia. E gostei muito so seu texto e da sua tradução, Felicia! Um abraço! ;)
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